sexta-feira, junho 10, 2005

Pois mais que você esteja ruim, tudo ainda pode ficar pior.

Para nos adaptar com a nossa morada tivemos que conhecer um punhado de regras que o clube nos impõe pois, além de morarmos no interior dele, não pagamos nada para morar. Na primeira reunião em nosso quartel general, a diretora do Departamento de Alimentação fez questão de colocar os pingos nos iis, sem hesitar.
Como moramos num casarão com mais de trinta pessoas a maioria das regras foi sobre como conviver com tanta gente no mesmo pequeno lugar. Nada de barulho, festas, bebidas em casa nem pensar. É claro que a gente bebe e me parece que os cães de guardas fingem que não farejam cheiro de álcool no ambiente. Para finalizar a quilométrica lista de regras, visitas nem pensar.
Esse era e foi só o começo. Como não temos cozinha e a única geladeira para a população da casa está imunda, nos resta comer pizza, sacos de salgadinhos e besteiradas toda a noite, pois só jantamos à noite quando o clube oferece jantar a seus membros. Com desconto semanal em nosso pagamento, temos direito a uma comida muito pouco variada no almoço. No clube que trabalhávamos na Flórida, almoçavamos e jantávamos todos os dias, geralmente a mesma comida que os membros e não gastavámos um centavo com isso. Apesar de ser sempre a mesma comida e estarmos saturados dela, tínhamos frutas e verduras à vontade. Aqui, nem sonhamos em comer frutas, comemos frangos todos os dias e umas misturas estranhas que se não comermos, por falta de jantar e vitaminas, logo ficaremos com a saúde debilitada, o que não é nada bom por aqui, conforme minhas experiências anteriores confirmam.
Na comida eles economizam com os empregados e ponto final. É que o é. Quanto ao tratamento pessoal, esse também não é dos melhores. O gerente geral é um senhor alemão não muito agradável e raramente diz bom dia a seus funcionários e tem como passatempo preferido criticar as coisas erradas e jamais agradecer ou elogiar por mais esforço que qualquer um faça.
A revolta sobre o tratamento pessoal é tão grande que muitos dos funcionários estão pensando em escrever uma carta abaixo-assinado de reclamações gerais sobre o tratamento que eles dispensam a todos nós.
Já em casa, o banheiro principal do primeiro andar está com a duas privadas entupidas e imundas e já faz mais de uma semana e ninguém apareceu para arrumar.
Finalmente longe dos amigos, comendo Doritos e tomando água no café da manhã, vivendo de fast food nos dias livres e todas as noites, ainda temos que aguentar o mal cheiro da minha vizinha de quarto, uma búlgara que por onde passa exala mal cheiro e é impossivel não passar mal quando ela deixa a porta de seu quarto aberta. E o pior de tudo é que todos sabem, comentam e a nossa chefe não tem coragem de conversar com ela, deixando-a atender milhares de membros no restaurante, com todo o seu mal cheiro.
Depois de tudo isso, não poder sair pra fora da casa por medo de ser atacada por um guaxinin, aquele cachorro selvagem que parece que usa a máscara de zorro, é apenas um detalhe tão pequeno de nós dois...

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