quarta-feira, setembro 07, 2005

Nos céus de New Jersey

A intensa primeira experiência de saltar de paraquedas

Ansiedade e frio na barriga são as sensações que qualquer pessoa, que está a ponto de se jogar de uma altura de quatro mil metros, consegue dizer ao contar o que sente nesse grande momento. Quando perguntei ao Pancake, instrutor de paraquedismo há sete anos, o que era o que eu estava fazendo, com sorriso maroto ele disse que depois do salto eu passaria mais de uma semana rindo à toa, tamanha a sensação.

Para garantir esse sentimento, não hesitei e logo estava eu presa ao colete cheio de ganchos de aço que é atachado ao colete do instrutor que carrega o paraquedas nas costas. Mas para chegar ao momento fatal, como tudo que gera muita ansiedade, a espera é fatal.

Minha companheira de aventura e eu atravessamos o estado de New Jersey quase inteiro e, logo depois de oito horas, estavamos saltando do ônibus que nos deixa as poucas quadras da escola de sensações. Williamstown é uma cidade pequena e quando desembarcamos, a primeira sensação foi a de que estávamos perdidas no meio do sertão americano. Muitos carros, sem muitos estabelecimentos comerciais e sem ninguém nas ruas, exceto por dois homens com um caminhão branco, parecido com aqueles de entregas que são sem portas e em forma de uma caixa, bastante usado aqui nos Estados Unidos e se você reparar verá nos filmes.

Aproveitando o encontro, perguntamos a eles onde é que ficava essa tal escola de sensação e tudo que tínhamos era o nome da rua, Dahlia Street (pronuncia-se Daláia) cuja pronuncia descobrimos com muito custo ao perguntar a motorista do ônibus que nos conduziu a parte final de nosso trajeto. Muito simpáticos, a dupla nos explicou como chegar até o local e poucos minutos de caminhada depois, eles nos pararam no meio do caminho nos oferecerendo carona até lá.

Saltando do caminhão, já observando o movimento e entrando na escola, a placa já avisa de antemão – AVISO: PARAQUEDISMO É UMA ATIVIDADE DE RISCO QUE PODE CAUSAR OU RESULTAR EM SÉRIO ACIDENTE OU MORTE. Você encararia?


Quem está na chuva....

Um bom grupo de aventureiros espera a sua hora e vez de cometer o que muitos chamam de loucura e até chegar ao momento (final?!?), é necessário assinar uma série de papéis e termos de responsabilidade para que o futuro paraquedista tenha plena consciência do risco que corre ao praticar o esporte. No final você até arrisca a refletir a razão de pagar para correr tanto risco.

Para expulsar a idéia de desistência, pergunto ao Pancake quantos acidentes ele havia visto durante seus muitos anos de prática e não fico muito contente quando descubro que acidentes acontecem mesmo, contudo, ele não entra em detalhes o que, ao invés de tranquilizar, assusta. No final de minhas interrogações, quero saber quantas pessoas sobem até lá e desistem de cair. A resposta é mais assustadora ainda quando ele olha pra mim e responde: “Durante meus anos de trabalho só vi duas pessoas desistirem na hora H”. Bom, se somente duas pessoas amarelaram eu já podia começar a chorar, pois iria ser vergonhoso ir até lá e não pular. Momento difícil, decisão mais do que tomada.

Somos chamadas para o treinamento e tudo que eles nos explicam é a necessidade de saltar com os braços cruzados ao peito até o instrutor liberar a abertura de nossas asas, e a importância de aterrizar com as pernas unidas e semiflexionadas para evitar fraturas. Explicação dada. Avante muchachas!


Crianças!!! As nuvens não são de algodão!!!


Sai o último grupo antes do nosso e vai batendo aquele desespero. Chegamos a escola por volta das três da tarde e já era quase cinco horas quando chegou a nossa vez. Todos seguem para o avião e os instrutores começam a checar nossos equipamentos de segurança. Mike toma a frente e começa a me arrumar até que um outro diz que ele saltaria com a Sandra ao invés de mim. Fico confusa porque previamente dois instrutores, incluindo ele, haviam se apresentados como meu companheiro de salto mas, sendo assim, espero a Jonathan que chega afobado e por último já que havia acabado de chegar no salto anterior. Resultado da história: todo mundo dentro do avião e eu entrei por último. E o que significa entrar por último no avião? Tudo o que ninguém queria...ser a primeira a saltar!

Jonathan me arruma, sobe no avião e vou logo em seguida. Paul entra também e é o responsável por meu video e fotos no ar. Ele grava algumas conversações e tenta me tranquilizar. Fico de frente para a porta transparente do avião e consigo ver tudo e não me conformo o quanto ele sobe. Tudo vai ficando longe, muito longe...

Pergunto a meu companheiro como será a queda e ele diz que na hora certa sentaríamos na porta do avião e nos jogaríamos. Fácil, né? Pensei: “Como vou ter conragem de sentar na porta do avião e me jogar?” Já havia concluído que talvez meu salto nem sairia, mas depois de uns 25 minutos voando, eis que meu camêraman abre a porta e faz um sinal mortal para meu instrutor, o primeiro.

Ele vai primeiro e num piscar de olhos meu instrutor me arrasta até a porta e nem tenho tempo de hesitar e sou jogada a quatro mil metro afora. O primeiro minuto de queda livre é tão brutal, e se cai numa velocidade que o mais perto da descrição que você possa entenderse, é que durante a queda você perde todo o medo anterior a ela e tem uma sensação tão boa não acreditando na imagem que você tem de cima.

Nesse um minuto de queda livre você não pensa em nada e a única sensação assustadora acontece quando o paraquedas é aberto e devido ao tranco bem forte, sente - se por um instante que você foi solto do instrutor e continuará caindo, mas em questão de segundos, é uma paz, um silêncio e resta apreciar a vista e o vôo.

Rindo à toa, admirada com tanta beleza, essa é uma das melhores e mais inexplicáveis sensações que um indivíduo pode ter. No final, lágrimas saltam de meus olhos como se quisessem sentir pelo menos parte do que eu senti quando saltei daquele avião.


E quando o paraquedas não abriu...

Com certeza você já deve ter ouvido história de paraquedas e muitas pessoas já devem ter lhe dito que quando se pula de paraquedas, além do principal há o reserva. É bom você não ter dúvidas que isso acontece e quando for a sua vez rezar para que o paraquedas reserva funcione muito bem, pois foi isso que aconteceu com minha companheira de aventuras, Sandra Higashi.
A última a saltar do meu grupo, tudo estava correndo bem quando logo após a primeira tentativa de abrir o paraquedas, ele saiu embolado. Mike, seu instrutor, e aquele mesmo que pensava que iria comigo, pediu para que ela se preparasse pois talvez teriam que abrir o paraquedas reservas.
Segundo ela, tudo corria bem até logo depois da abertura do equipamento quando ele começou a assobiar para os companheiros que estavam por perto. A partir disso, ele a avisou e pediu para que ela segurasse um cabo com precisão. Já um pouco assustada, com tranquilidade ele perguntou se ela estaria preparada para o corte do primeiro paraquedas. Resposta afirmativa, ele cortou e os dois passaram novamente por alguns segundos de queda livre até que o paraquedas reserva fosse aberto.
A partir desse pequeno incidente, tudo percorreu normalmente e quando ela perguntou a Mike a estatística de falha do primeiro paraquedas, ele respondeu que isso acontece na proporção de 1 para 1000.
Para o primeiro pulo, Sandra passou por dose dupla de adrenalina e realmente provou aos paraquedistas de plantão que acidentes realmente acontece e tomar as devidas precauções nunca é demais. Depois do susto, Mike anunciava a todos, “Mal function”, ou seja, queda com falhas... corrigíveis, felizmente!

2 comentários:

Anônimo disse...

Keep up the good work. thnx!
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Anônimo disse...

Really amazing! Useful information. All the best.
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